domingo, 18 de abril de 2010

EMDR

A orgonoterapia é uma abordagem terapêutica psico-corporal criada por Wilhelm Reich a partir da psicanálise. Esta abordagem tem sido aperfeiçoada pela incorporação de novos recursos clínicos criados a partir dela mesma ou adaptados de outras especialidades terapêuticas. Neste artigo comentamos a utilização da técnica orgonoterápica de foto-estimulação, associada ao método EMDR.
O método EMDR (“Eye movement desensitization and reprocessing”), que significa dessensibilização e reprocessamento através do movimento ocular, foi criado em 1987 por Francine Shapiro. É atualmente considerado por muitos como a mais importante descoberta da década de 90 no campo das psicoterapias. Consiste em associar certas técnicas de estimulação corporal bilateral, particularmente a movimentação lateral dos olhos, a um conjunto de intervenções verbais conduzidas pelo terapeuta segundo um roteiro detalhado e protocolado pela autora. Baseia-se no fato de que as desordens pós-traumáticas e sintomas psicopatológicos em geral agregam imagens, sentimentos, e cognições negativas que não puderam ser devidamente processados devido a desequilíbrios bioquímicos e elétricos resultantes do stress que acompanha o evento traumático, permanecendo como que “congelados” no cérebro em sua forma original.
As descobertas de Le Doux, Henry, van der Kolk e outros pesquisadores indicam que as desordens de stress pós-traumático devem-se a alterações funcionais em algumas estruturas do sistema límbico e do córtex cerebral. A ativação da amígdala e a liberação de noradrenalina e outros neuro-hormônios durante o stress, inibem o hipocampo e os neurônios GTF e entorpecem certas áreas do neocórtex, prejudicando a interpretação cognitiva do evento traumático. As memórias são guardadas sob forma de sensações, imagens visuais e padrões motores ficando prejudicada sua representação semântica. Isto gera desajustes comportamentais e emocionais. O indivíduo perde a capacidade de diferenciar, por exemplo, entre o perigo que representa um leão solto no quintal de casa ou um leão na jaula do zoológico.
A intervenção rítmica do EMDR promoveria uma reconexão funcional entre as diferentes áreas dos dois hemisférios cerebrais, permitindo que estas informações fossem reprocessadas e integradas. Foi evidenciado por tomografia PET que após o tratamento com o método ocorre uma ativação de diversas áreas cerebrais incluindo a área de Broca, relacionada à fala, e um aumento da atividade de fibras do corpo caloso, que comunicam os dois hemisférios cerebrais.
A utilização de intervenções verbais associadas a técnicas de intervenção corporal, como a movimentação dos olhos, não é em si uma novidade, pois em orgonoterapia isso já é utilizado há mais de 30 anos. Porém o que o método EMDR traz de novo é a sistematização destas intervenções verbais, agregando memórias visuais, afetivas e cognitivas, e o fato de conduzi-las em sequência rápida de forma simultânea ou alternada com as intervenções corporais. Embora a história da criação deste método não tenha qualquer relação com a orgonoterapia, a sua similaridade com a abordagem psico-corporal reichiana permite associá-lo a algumas de suas técnicas corporais, principalmente a técnica de foto-estimulação ocular.
O método terapêutico de estimulação ocular com a luz em movimento foi criado pela orgonoterapeuta Barbara Goldenberg Koopman, discípula de Reich e Baker. Consiste em propor ao paciente que acompanhe com os olhos a luz de uma pequena lanterna que o terapeuta movimenta em trajetórias e ritmos específicos, permitindo que a luz incida sobre os olhos em diferentes pontos do campo visual. Esta técnica tornou-se clássica em orgonoterapia pelos resultados que proporciona no tratamento de diversos distúrbios psico-emocionais e somáticos.
Nos últimos anos, pesquisadores de diferentes especialidades criaram outras técnicas de foto-estimulação. O livro “Light Years Ahead” publicado em 1996 por Brian Breiling e Lee Hartley apresenta uma coletânea de métodos de tratamento psicossomático (“mindbody healing”) que utilizam a foto-estimulação ocular, confirmando sua eficácia no tratamento de grande número de doenças. Embora o livro não comente especificamente a foto-estimulação de B. Koopman, a comprovação dos efeitos terapêuticos de técnicas similares não só confirma como também fundamenta seus efeitos com base em descobertas recentes no campo das neurociências. Os efeitos terapêuticos desta técnica explicam-se por diversos fatores associados, que podem ser resumidos em 4 itens:
Ÿ   Estimula a manutenção contínua da visão binocular em diferentes pontos do campo visual, favorecendo a conexão funcional entre diferentes áreas dos dois hemisférios cerebrais e o reprocessamento de memórias de eventos emocionais, reconectando afetos e suas representações psíquicas.
Ÿ   Permite restaurar a coordenação dos movimentos conjugados dos dois olhos, favorecendo a orientação espaço-temporal e as funções psíquicas associadas.
Ÿ   Favorece a regulação das secreções hormonais do eixo hipotálamo-hipófise e da glândula pineal, contribuindo para a regularização das funções psicossomáticas associadas.
Ÿ   Ativa os neurônios GTF reproduzindo uma atividade elétrica cerebral similar aos períodos de sono REM, que hoje sabemos ter fundamental importância no processamento de informações ligadas a nosso equilíbrio psico-emocional
O estímulo à conexão funcional entre os dois hemisférios cerebrais e a ativação dos neurônios GTF, reproduzindo atividade elétrica cerebral similar ao sono REM são duas importantes similaridades entre esta técnica e o método EMDR.
A técnica original sugere o emprego da luz branca. Porém, considerando a importância da visão a cores na espécie humana e sua vinculação com nossas funções afetivas, desenvolvemos pesquisas clínicas com luzes de cor azul, verde e vermelha. A escolha destas cores baseia-se no fato de existirem três tipos de células na retina, chamadas cones, cujo máximo de absorção de luz corresponde a cada uma destas cores. A estimulação de cada uma delas gera impulsos nervosos que são conduzidos a diferentes regiões do cérebro. Os resultados clínicos obtidos, publicados na Revista da Sociedade Wilhelm Reich RS no 2, pg. 40-54 (1998) indicam que cada cor é seletivamente mais eficaz no tratamento de determinadas disfunções psico-emocionais e somáticas.
O trabalho com a luz favorece a evocação de memórias de eventos com importante significado emocional, e o acesso a conteúdos do inconsciente. Isto é particularmente frequente quando sugerimos ao paciente que durante o trabalho com a luz procure relatar as memórias, imagens e expressões relacionadas a estes episódios. Sua utilidade na elaboração e reprocessamento de eventos traumáticos parece ocorrer por mecanismos similares aos descritos por Shapiro, com o método EMDR. E é justamente na forma de conduzir as intervenções verbais, quanto à sua sequência e sistemática, que o método EMDR pode contribuir para a obtenção de melhores resultados com a técnica de foto-estimulação. Por outro lado, o estímulo luminoso parece produzir efeitos terapêuticos mais amplos e eficazes do que a simples movimentação dos olhos. Logo, cada um dos métodos tem algo a contribuir para o enriquecimento do outro e sua utilização conjunta pode melhorar sua eficácia terapêutica.

FONTE: EMDR

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